​​​Para as famílias de hoje, as demandas de consumo dos filhos de até 12 anos, são diferentes, em custo e quantidade, com as suas expectativas na mesma idade, se compararmos com décadas atrás. Lidar com o consumismo é um desafio, pois a princípio os pais querem sempre agradar os filhos, que tantas alegrias trazem, mas sabem, ao mesmo tempo, que é preciso estabelecer limites. Eliane Santiago, psicopedagoga que atua no Rio de Janeiro e tem 39 anos de experiência profissional com famílias e pacientes individuais, dá a sua visão sobre o assunto, na entrevista a seguir. Confira.

Desde muito pequenas, as crianças querem jogos eletrônicos, celulares, às vezes por comparação com colegas de escola que ganharam cedo esse tipo de presente. Como acredita que os pais devem lidar com essa questão?

É uma questão muito delicada, pois se por um lado vivemos num ambiente social onde os valores de consumo são exacerbados, por outro, há necessidade de conscientização sobre os valores éticos e morais em relação ao TER e SER. O desafio é buscar equilíbrio nestas questões.

Existe o risco de criar pessoas muito consumistas, se desde pequenas às crianças acostumam-se a comprar?

Existe, desde que não se avalie o custo-benefício e a necessidade de cada compra. É importante os pais darem o exemplo sobre como se relacionam com o consumo, pois é essa relação que se perpetuará nos pequenos.

Existe uma idade ou um estágio de amadurecimento a partir do qual um telefone celular passa a ser realmente útil?

Sim. O telefone celular hoje está muito ligado à segurança das pessoas e a idade propícia é aquela a partir da qual o usuário passa a ter esse entendimento.

É importante, para a formação da personalidade, que se diga ‘não’ a algumas demandas?

Evidentemente, já que na vida estaremos recebendo muito mais a resposta “não” do que “sim”. É um aprendizado lidar com frustrações, pois aprendemos com elas a nos flexibilizar, a realizar escolhas e a lutar pelo que desejamos.

Em sua experiência, pais e filhos apresentam problemas em relação ao consumo?

Sim, os brasileiros de maneira geral não têm cultura de poupança e de planejamento de futuro. Buscam prazer imediato e, consequentemente, priorizam o consumo, o que pode vir a gerar problemas.

Estabelecer uma mesada pode ser útil? A partir de quando?

​Pode ser muito útil, desde que a criança tenha um mínimo de educação financeira e entenda o conceito de receita e despesa, ou seja, saiba que não pode gastar mais do que recebe. Neste caso, os filhos aprendem desde cedo a fazer escolhas priorizando suas necessidades e prazeres, mas dentro da realidade econômica da família.