Impulso consumista começa na infância

Controlar o impulso de consumir é, certamente, uma das formas mais eficientes de obter sucesso em seu planejamento financeiro. Comprar com base em necessidades reais, levando em conta questões como custo-benefício, disponibilidade de recursos e responsabilidade socioambiental, é uma tarefa difícil em um mundo muito voltado para o consumismo, mas indispensável a quem deseja ter controle de seu orçamento.

Se adultos precisam de autoconhecimento e disciplina para agir assim, crianças são ainda mais vulneráveis aos apelos do mercado. O Ibope Mídia divulga o volume anual de investimento publicitário no Brasil. Em 2014, foram movimentados R$ 121 bilhões com publicidade, cabendo à televisão aberta e fechada 70% desse investimento.

Como, segundo levantamento do instituto, a criança brasileira passa em média 5h22 minutos por dia em frente à TV, indústrias, redes de varejo e agências de publicidade buscam cada vez mais fazer com que esse público-alvo deseje produtos e serviços, influenciando as decisões de compra de seus pais.

O que acaba, de fato, por acontecer. Uma pesquisa feita em 2014 pelo Serviço de Proteção ao Crédito e o site Meu Bolso Feliz constatou que a maioria dos pais (52%) cede à pressão dos filhos quando vai às compras, mesmo sabendo que atender ao pedido pode afetar seu orçamento.

Para evitar problemas, há pais atentos. A jornalista Maria Helena Esteban, moradora do Leblon, no Rio de Janeiro, é mãe de uma menina de 6 anos, a Antonia. Sobre a questão do excesso de consumo, ela diz que “se a gente ensina valores como fraternidade, aceitação do outro, compartilhamento, a não se achar mais importante por ter uma oportunidade ou objeto que o outro não tem, a criança naturalmente se mostra menos consumista. Ainda não percebi em minha filha uma tendência ao consumo desenfreado. Não é uma questão que nos aflija, e ela, apesar de seus 6 anos, aceita muitíssimo bem os nãos”.

​No dia a dia, Maria Helena se preocupa em educar sua filha para que “ela seja uma pessoa íntegra e capaz de se posicionar diante de uma sociedade perita em criar falsas demandas e urgências. Então, procuro mostrar que podemos ter uma maneira própria de fazer as coisas. Por exemplo: Antonia vai e volta a pé para a escola, enquanto outras crianças que percorrem distâncias parecidas vão de transporte escolar. Nas vezes em que me perguntou, expliquei que é mais saudável, por conta da caminhada; que economiza tempo e dinheiro; e que ainda proporciona que ela conheça as ruas, o trânsito e o bairro. Temos uma rotina de reposição de compras de mercado que fazemos juntas, pela manhã. Levo Antonia comigo porque acho divertido, é um momento a mais que temos para ficar juntas, antes de eu ir para o trabalho. Mas também é um momento de aprendizado. Peço que ela me ajude a ver preços e fazemos comparações, por exemplo, de qual está mais barato. E mesmo quando compramos algo considerado “caro”, ela pode perceber concretamente o conceito de caro. Este ano, uma das grandes novidades para ela foi poder passar a comprar merenda na cantina da escola; então, fizemos as contas e mostrei que com um dia de merenda na cantina podemos comprar, pelo menos, duas merendas feitas em casa, com tudo fresquinho e saudável. E que merendar todos os dias na cantina sairia o mesmo preço da mensalidade do balé ou da natação. Foram argumentos que venceram o “todas as minhas amigas fazem”. E combinamos, na maior alegria, que ela tem direito a comprar merenda na escola uma vez por semana, à escolha dela”.